quarta-feira, 30 de abril de 2008

LEI SECA

ÚLTIMA DOSE


Ainda lembro do bar em que tomei minha primeira dose, e olhe que já faz tempo, mas o que realmente não me lembro é quando foi que tomei a última, mas lembro onde tomei. Isso me leva a crer que de fato nunca gostei de beber, eu gosto mesmo é do boteco. Beber é pretexto pra ficar por ali… no ambiente do boteco; prefiro o local ao que se serve.
Gosto do que acontece no bar, as conversas, as pessoas que aparecem, a sabedoria do boteco, as motivações, etc.

Desta vez eu estava viajando pelo interior da Bahia e conversava com um amigo sobre a lei seca nas rodovias brasileiras, ou seja, a proibição de se vender bebidas alcoólicas nas estradas. Ele defendia a proibição e eu era contra. Meu argumento era pela aplicação efetiva do Código de Trânsito, as politicas educacionais e preventivas nele previstas, etc. Ele trazia as estatisticas de acidentes envolvendo bebida.
Já tinhamos superado as ofensas pessoais e já estavamos quase nas vias de fato quando algo me chamou a atenção; um boteco!
O nome do boteco: última dose!
Localização: ao lado do cemitério,
Acreditem, nem o “morte lenta” me causou tanto temor.


Era na saída da cidade, após a placa do “volte sempre” que ficava a três quebra molas da placa de “seja bem vindo”.
Na verdade era um povoado dividido pela BR 101.
A frente do bar era BR e no fundo ficava a praça municipal.

-Tá vendo, até o bar já sabe. Última dose! bebeu, bateu, morreu! - disse o rapaz que estava ao meu lado interrompendo meus pensamentos.
- Última dose porque fica na saída da cidade! - retruquei;
- Depende de onde você venha, - rebateu.
- Sem falar que é do lado do cemitério. (continuou).
(…)

Que cara chato!
Realmente era assustador, mas resolvi parar no última dose, sob protesto do amigo que me chamou de tudo quanto é nome. Verifiquei que a porta da frente estava trancada e tinha afixada cópia da Medida Provisória que proibia a venda de bebida. Dei a volta e fui ver se tinha alguém nos fundos. Para minha surpresa estava rolando a maior bebedeira, cerveja, cachaça, e até o famoso “rabo de galo” rolava sem impedimento.

O cara (meu amigo) não parava de falar, porém, atendeu meu pedido e voltou para o carro mas antes:
- Compre uma ÁGUA pra mim….ah, não demore!

Pedi a água do rapaz e aproveitei pra perguntar se não estava proibido a venda de bebidas. O dono do bar me respondeu que é proibido vender pela porta da frente, que agora é a porta do fundo, mas vender naquela entrada não havia proibição pois o endereço ali era diverso, era endereço da praça municipal da cidade e não da BR.
Entretanto, segundo informa, a fiscalização está forte, todo carro que passa no posto policial próximo é parado. E de 30 em 30 minutos passa uma viatura da policia na frente.
O que, aliás, aumentou a segurança do local.
Perguntei de quem foi a idéia. Ele me apontou o autor do projeto. Eis o gênio, que estava ancorado no balcão. Era conhecido por “budega” namorado de “boca de internet” - não me pergunte o porquê desse apelido.

Na minha opinião ali também era proibido vender bebida, a MP se aplicava também para aquele caso, mas eu não iria estragar a credibilidade do budega, quem sou eu! E também não ia desmoralizar a Policia Rodoviária próxima, que fiscalizava.

Voltei pro carro e contei a situação ao amigo, inclusive que a PRF estava parando todo mundo.
Proto, era o que faltava.
Indignado, viajava com o pé colado no parabrisa e não parava de falar que tudo aquilo era um absurdo, que as pessoas não tem consciência, que ali estavam reunidos potenciais assassinos, que nesse país as leis tem que ser rigorosas, etc.

Neste clima, passados aprox, 2Km fomos parados pela Polícia Rodoviária, confirmando o que o dono do boteco havia dito.
- Documento: OK;
- Habilitação: OK;
- Extintor: OK;
- Cinto de segurança: …ok…e …
- Do passageiro: ….cadê…
Fui multado; o imbécil estava sem cinto.

"Uma vez que não podemos modificar os homens não nos cansemos de modificar as leis"
L. Arréat

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

NATAL

O espírito natalino
É natal!
Nessa época do ano tudo parece mais confortável, o mundo parece parar, as pessoas aparentam serem mais solidárias.
Mas, é justamente neste período do ano que surge uma frase que há muito me amedronta e que na Bahia é repetida até o final da ressaca do carnaval.
Aliás, eu nunca pensei que esta frase fosse me aterrorizar tanto, quanto fez, quando um amigo me perguntou se eu já tinha visto o Papai Noel do Shopping Iguatemi de Feira de Santana, e adjetivou: - Decrépito!
Diante de tanta lástima empregada por meu amigo ao falar do Papai Noel fiquei com vontade de ir conferir in loco o bom, ou melhor, o decrépito velhinho. Eu já tinha encarado o Papai Noel das lojas Insinuante do Shopping Barra, quando pensando se tratar de um boneco gigante, pois ele só mexe a cabeça, eu apoiei em suas costas um papel e uma caneta para tomar nota de um preço. Ou seja, nada poderia ser pior.
Dirigindo pelas ruas de Salvador me dei conta de que o decrépito velhinho, que eu estava prestes a visitar, nada difere de tantas outras pessoas que sob o efeito da frase a que me refiro, fazem do Natal, uma época boa de ganhar dinheiroooo !!!
Graças a essa frase um vendedor ambulante me ofereceu um Papai Noel inflável. Sim, aquele negócio vermelho com o bigode maior que a perna é um Papai Noel! Confesso que pensei em comprar.
As caixinhas de Natal, as familhas nas sinaleiras, os flanelinhas ocasionais, os deficientes natalinos, as Mamães Noel, etc, tudo isso é efeito da frase.
Sem falar em advogados, arquitetos, engenheiros, e até dentistas trabalhando em lojas no shopping.
Acredite, sobra vaga no emprego formal nesta época do ano.
Decidi suspender minha viagem, não iria ver nenhuma novidade por lá, aqui também está cheio de figuras semelhantes, preste atenção que verá!

Chegando em casa, no elevador, dois homens e uma mulher:
Homem 1: - Rapaz, carnaval ta chegando, este ano vai ser mais cedo!
Homem 2: - É mesmo.
Homem 1: - É, temos que arranjar algum jeito de ganhar dinheiro!
Mulher: - Nem me fale!

Eu moro no 16º andar, parei no 10º e subi o resto de escada. Não preciso mais ver o Papai Noel de Feira de Santana, já estou satisfeito.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

AQUECIMENTO GLOBAL

Qual a senha? (quem souber me diga)

Eles já foram embora? você trancou a porta? Estão tramando contra mim! Foi isso que ouvi de um amigo, naquilo que posso chamar de situação embaraçosa.
Com medo ele fugiu, está morando no exterior. Não me pergunte onde, ele não deixou pistas, não quer ser encontrado. O que ele fez? Nada. Viu os ratos subirem ao convés e percebeu que o navio está afundando.

Ele, a uns 15 anos atrás, tinha certeza de que o governo despejava LCD nas caixas e reservatórios de água da empresa de saneamento da Bahia – Embasa, e atribui a isto o surgimento de figuras como Carlinhos Brown, Xexeu, Carla Perez, cumpadre Washington, e outras aberrações. A última teoria dele é de que não existe aquecimento global, trata-se de uma estratégia americana para impedir o crescimento dos paises em desenvolvimento. Sobre a NASA?! Ha, aí é com ele, sabe tudo, inclusive dos et's que estão infiltrados no exército americano.

Sempre achei, assim como muita gente acha, que um dia iriam tributar o oxigênio, o famoso ar que a gente respira. De certa forma, esta sempre foi uma suspeita que me levava a crer que eu estava ficando como o amigo que me referi, mas foi recentemente, ao receber uma ligação dele que passei a dar mais credibilidade aos seus devaneios e a me preocupar com isso, e com ele também.

- Está claro para mim que o objetivo de todas as nações do mundo é sequestrar gás carbônico pra vender oxigênio.(essa foi a resposta que ele me deu quando perguntei como iam as coisas!)

Sequestrar gás carbônico?! Vender Oxigênio ?!

Eu: - Quem te disse isso? (perguntar não ofende)
Ele: - Tem alguém ai com você?
Eu: - Não, pode falar.
Ele(sussurando): - O protocolo de Quioto é uma farsa, tudo armado, arquitetaram um plano pra cobrar oxigênio através do crédito de carbono!

Percebi onde o amigo queria chegar e tentei explicar o que eu sabia do tema para ver se contornava a situação.
É o seguinte, as empresas que lançam CO2 na atmosfera estão “obrigadas”(não sei se no Brasil já existe essa obrigação) a sequestrar este gás na mesma quantidade que despejam, para isto devem manter reservas florestais com capacidade para tanto. Ocorre, porém, que nem todas as indústrias conseguem sequestrar o CO2, ou fazem de maneira insuficiente, enquanto outras sequestram quantidade a mais do que deveriam e ficam com crédito, o crédito de carbono. Este crédito pode ser negociado pela empresa, que vende para as indústrias que não tem como compensar o seu CO2. Aqui no Brasil a montadora Peugeot tem uma reserva no Mato Grosso que serve para isto.

Ele(insatisfeito): - Mas e as outras montadoras e empresas que compram, pagam pelos créditos de carbono, a quem você acha que elas repassam os valores pagos a título de débito de carbono? De quem elas cobram para retirar CO2 da atmosfera e manter elevada a quantidade de O2?...heim, heim,...
Eu: - Veja bem...
Ele: - ...é da genteeee.., elas cobram da genteeeee.., está no preço do carro, no preço do refrigerante, do combustível, da calça, da cueca, Ta foda! Eles querem me ferrar! eu já não aguento mais ! Eles nos pegaram!

De certa forma comecei a dar um pouco de razão ao meu amigo, mas, amigo que sou não poderia deixar ele levar isto adiante, afinal, eu conheço a peça! Tentei mudar de assunto.

Eu: - E você meu amigo quando aparece por aqui?
(silêncio)
Eu: - Alô ! Alô?
Ele: - Você não está entendendo, agora não temos saída, deve haver alguma alternativa.
Eu: - A minha sugestão é que devemos comprar um terreno e fazer uma reserva para termos nosso crédito também, futuramente venderemos o crédito de carbono e ganharemos grana. É um bom negócio, já que o aeroporto de Ovni não deu certo !!!

Se tem uma coisa que eu preciso aprender é que brincadeira tem hora, eu sempre brinco na hora errada; eu não resisti. Por mais que eu tenha falado em tom de brincadeira, consigo perceber que realmente é uma idéia boa, a reserva ambiental e não o aeroporto de ovni.

O aeroporto de Ovni:
A alguns anos atrás quando este meu amigo, amparado em teses apocalípticas, sustentava que no ano 2000 iria haver uma invasão de ET'S no mundo, eu lancei a idéia de construir um aeroporto para a galera que ia chegar.

Bom, para meu amigo a brincadeira não teve graça alguma e representou a minha adequação ao sistema, minha colaboração com o “plano nefasto”, a integração ao terrorismo, fui chamado de “usurpador de funções da natureza” (sabe-se lá o que é isto), entretanto, nada me surpreendeu mais do que o nosso último diálogo que seguiu (até agora estou achando que é brincadeira).

Ele: - Duda, diga a senha !
Eu: - Que senha?
Ele: - A senha.
Eu: - ET MINHA CASAAAA !!!!
...tu tu tu tu tu....(desligou).

Exagerei, dessa vez peguei pesado, não resisti mais uma vez e fiz uma graça, também que conversa errada, senha! que senha? Nunca tive senha, muito menos pra falar com meus amigos. Depois disso meu amigo sumiu, vou procurar saber dele antes de entrar em contato. Mandei um e-mail pra ele perguntando se tinha sido abduzido, nem respondeu.
O lado bom é que a reserva ambiental pode ser um bom negócio, ou será que eles também estão me seguindo?! conspiram contra mim?

sábado, 6 de outubro de 2007

RELIGIÃO X MORAL

Quem você quer ser?

Idos de 1994; eu, um adolescente de 14 anos que acabara de sair da aula de religião em um colégio católico na cidade de Salvador estava passando pelo corredor em direção ao campo de barro, pensando, na condição de zagueiro “caneludo” do time de futebol da 7ª A, no jogo final do campeonato contra o 3º E, campeões do 2º grau, ou seja, meus dias estavam contados!

De repente, percebi que estava sendo seguido; seriam meus algozes? Continuei impávido até o fim do corredor, afinal, tinha acabado de aprender que Deus estava sempre comigo, e realmente está.

Mais na frente, fui tomado de assalto por quatro elementos que disparavam frases soltas: “Você tem uma Jackson?”; “Como que ela é?”; “Americana ou Japonesa?”.

Hoje reconheço, aquele momento foi divisor de águas em minha vida (nunca mais joguei bola), e foi ali que nasceu a Cogumellos.

Bom, Jackson é a marca de uma guitarra que comprei nos EUA e que naquela época dificilmente se via por aqui. Tem gente que até hoje me chama de Jackson por conta disto!

Os caras que me cercaram eram: Lucas, um amigo de infância que eu havia perdido o contato, mas que compartilhava um amigo imaginário comigo quando tínhamos uns 6 ou 7 anos; conhecíamos uma bruxa que morava na casa do avô dele; eu juro que via, ele também jura. Thiago, um amigo que havíamos estudado juntos na 1ª série do primário, mas, ele repetiu está série e perdemos o contato. Daniel, um cara que chamavam de “Inhoque”, pois ninguém sabia pronunciar seu sobrenome italiano, que eu também não sei escrever. Alexandre, que na época era torcedor símbolo do Vitória e sempre nos falávamos na Fonte Nova; eu sinalizava pra ele, que, de tamborim na mão, gorro na cabeça, rosto pintado, abraçado com Rosicleide e Tonho barriga mole, só levantava no intervalo pra tomar um copinho de cachaça (daquelas que desce pela torneirinha de alumínio), e comer ovo de galinha com corante (seu preferido era o vermelho).

O que eles queriam?
Montar uma banda de Rock.
Eu aceitei.
No primeiro ensaio ninguém sabia tocar nada, ou melhor, cada um sabia um pedaço mal tocado de uma música mal ouvida. Então, ficamos conversando.
Foi ai que alguém falou: - Duda vai ser quem?
Eu indaguei: - Como assim?
Logo fui explicado:
Lucas era Einstein; Thiago era Newton; Daniel era Copérnico; Alexandre era Galileu. Eu precisava ser alguém!
A pergunta seguinte me intrigou: - Quem você quer ser?
Meu Deus, eu já tinha ouvido falar em Einstein, Galileu, Newton, não conhecia Copérnico e nenhum outro nome, então, quem eu seria?... Paulo Coelho?!
Sai pela tangente: - Quero ser Einstein, sempre gostei dele!
Os caras em uníssono: - Não dá !!!
Eu: - Por quê?
Lucas: - Eu sou Einsten! (Neste instante retira de dentro da carteira uma foto, como se fosse sua identidade, em que aparece com um palmo da língua pra fora e o cabelo assanhado).
Foi argumento suficiente pra me convencer.
Alguém sugeriu: - Você pode ser Kepler!
Ok, Kepler!
No outro dia corri para a biblioteca e pesquisei tudo sobre Kepler.

Pois bem, a partir de então estavam circulando pelos corredores do maior colégio católico de Salvador, Copérnico, Kepler, Galileu, Newton e Einstein, e o pior, faziam Rock nos finais de semana!

As aulas de religião continuaram e foram se misturando com as aulas de história, geografia, física... Mas foi em 1996, quando já tocávamos relativamente bem, que, no festival de música sobre matemática, entendi o significado da inquisição e percebi que moral não tem nada a ver com religião.

Diante das ocorrências passadas, em que só se apresentavam músicas falando idiotices, elaboramos um plano.

O Plano:
Iríamos concorrer com uma música de conteúdo nosso, bem elaborado, e outra, que concorreria pelo ginásio para Thiago (que permanecia na 6ª série), com conteúdo medíocre, assim, certamente conseguiríamos tocar e realizaríamos um protesto.

Conforme imaginado, nossa música rendeu pontos na matéria, mas não foi classificada para tocar. Era uma música bem feita, narrava a história da matemática, no refrão... O refrão era o seguinte: “Já dizia GALILEUUUU, a matemática é o alfabeto com que Deus escreveeuuu o universoooooo!”.
O colégio católico jamais admitiria aquele refrão. A canção foi barrada, mas, eles morderam a isca, a música idiota que fizemos passou e iríamos nos apresentar. Era o que queríamos!

No dia da apresentação, após tocarmos a maior cretinice musical já vista, nosso orador, Galileu, fantasiado de Jesus Cristo, iniciou um discurso incisivo, bem fundamentado e que repercutiria no Vaticano, tamanha foi a agitação da platéia. Mas, em seguida, Copérnico tomou o microfone e após proferir um discurso à Jim Morrison, deu o desfecho final, entoando a palavra que até hoje ecoa pela escola, e foi o Álibi que o conselho eclesiástico do colégio queria. Ele disse “PORRA”!
A confusão estava feita, filmada e registrada (a fita ainda existe).

Na segunda feira, Galileu, Kepler e Copérnico, foram convocados a se explicar no conselho. Exigiam um pedido formal de desculpa em 48 horas, sob pena de expulsão; fomos acusados inclusive de embriaguez! A incontinência verbal de Copérnico ia custar caro.

Não tive dúvida, estávamos na inquisição. Nós os protestantes!

Tinhamos o prazo de 48 horas para apresentar as desculpas pelo “Porra”, que, segundo o diretor eclesiástico afirmava, nunca tinha sido pronunciado naquele colégio.
Fizemos um conclave e deliberamos a questão; votei pela expulsão, fui voto vencido. Elaboramos uma retratação retirando o termo inadequadamente utilizado, mas, mantivemos o protesto. Fui mais além, no outro ano sai do colégio.

Ali morreram Einstein, Copérnico, Kepler, Galileu e Newton, mas nós continuamos.

Ano 2007, fui até este mesmo colégio acompanhar uma atividade, ao chegar não pude deixar de reparar um grupo de jovens na média de 13 anos, que realizavam uma dinâmica de grupo.
De repente ouvi um grito: - Eu sou o presidente, sou Lula!
Antes que eu pensasse alguma coisa, uma voz ainda mais infantil: - Eu sou Bebeeel! e mais outra: - Eu sou Zé pequeno, PORRAAA..!
Pronto, este assinou a sentença de morte; pensei.

Reparei uma menina encostada, quieta no canto, olhando tudo, parecia inconformada (acreditei nisto). Pensei: “esta vai salvar.” foi quando lhe fizeram uma pergunta que eu conhecia:
- Quem você quer ser? O suspense tomou conta da situação, voltei no tempo e senti a pergunta; identifiquei-me com aquela criança posta em xeque.

Quase chorando a menina responde: - Queria ser Bebel.
O diálogo prossegue...
- Então tá, pode ser, eu serei Cicareli!
- Sério?
- Claro, amigo é pra essas coisas! (imediatamente lembrei de meus amigos, da foto de Einstein, do campo de barro que não existe mais).
Fui embora do colégio, mais uma vez.

Ah! A música que venceu o festival de matemática naquele ano?
Não lembro o nome, mas o refrão e a coreografia... isso eu me lembro:

“Vai descendo na continha da matemática /desce mais, desce mais um pouquinho, desce mais desce devagarzinho.”

Tinha uma garrafa e tudo, bem no meio...do palco é claro.


“Eu medi os céus, agora medirei as sombras da Terra. Embora a minha alma rume ao céu, a sombra do meu corpo permanece aqui.” Kepler (1571 -1630).

sábado, 22 de setembro de 2007

COTAS



Malandro é o gato porque nasce com bigode?

Há poucos dias foi realizada em Salvador uma passeata gay, e foi justamente neste dia que recebi o telefonema de uma pessoa querida que me confidenciou: “peguei branquinho no flagra; me deu uma dor ! chega ele estava com os olhinhos virados”.
Bom, vamos explicar:
Esta pessoa a que me refiro cria três gatos,um de raça chamado branco, um mestiço chamado marrom, e um vira lata que não lembro o nome, mas que é de cor preta, ou afro, como queira.

O fato é que, meses atrás, em visita a casa desta pessoa, percebi que os gatos tem tratamento desigual; o branco dorme dentro de casa, sobe no sofá, come a hora que quer, tem o prato mais bonito, a coleira, etc. enquanto que o mestiço e o preto dormem no telhado, matam rato no quintal, comem sobras, etc.
Diante de tamanha desigualdade resolvi interceder na ordem que ali estava estabelecida e sugeri a criação de cotas para garantir aos gatos, marrom e preto, os mesmos direitos do gato branco. Meu discurso não foi muito convincente, mas, de alguma maneira surtiu o efeito desejado, pois, os gatos passaram a ter acesso irrestrito pela casa, a comerem da mesma ração, no mesmo horário, etc. Certamente foram conquistas históricas para os gatos excluídos.
Ocorre que, com o passar do tempo o gato branco começou a perder espaço; agora, além de ser minoria populacional, não tinha os privilégios de antes, nem predileção em nada, pior que isto, ele sempre era o último em tudo, passou a comer sobras, dormir no relento, etc.
Quando percebi o que estava ocorrendo me senti culpado, fui tomado pelo remorso, fiquei intranqüilo, e me lembrei de meu cunhado.

O meu cunhado
Bom, o meu cunhado é um sul-africano, loiro, heterossexual, que mora em Londres.
Sabe o que isto significa? Que na África do sul, segundo ele relata, criou-se tantas cotas que quem nasce branco e heterossexual não consegue emprego e tem que ir embora do país. Tem cota para negros, mestiços, mulheres, deficientes e também para homossexuais. Assim, quem... o quêêê! Cota pra gay?! É isto mesmo, é a chamada política do “ou dá ou desce”, ou melhor, ou dá ou vai embora.

Voltando...
Resolvi então acabar aquela história de cotas, afirmei que o branquinho estava sofrendo, que ele tava sendo excluído sem que ninguém intercedesse por ele. Ninguém se sensibilizou e ainda me apontaram como o idealista das cotas. Fiquei fudido e resolvi contar a história de meu cunhado, que foi pra Europa pra não ter que “tomar” no sul! Eu temia que o gato fosse embora, argumentei que ele iria morar com o vizinho, mas nada adiantou.
Enquanto eu narrava a história o gato escutava tudo atentamente e me olhava me culpando pela situação.
Perdi a batalha, nada mudou. Eu seguiria minha vida sabendo que o gato branco a qualquer tempo tomaria outro rumo.

Entretanto, quando recebi o telefonema, aquele no dia da passeata gay, lembrei novamente de meu cunhado, das cotas, da política do “ou dá ou vai embora”, e comecei a refletir; não podia ser verdade, logo o gato, que já nasce de bigode, parente do leão, felino caçador,... não pode ser verdade, de olhinho virado?!...Mas não tive escolha e proferi a sentença: “ESTE GATO É VIADO, COTA PRA ELE!”.

Se essa moda pega, o que vai ter de olhinho virado por ai!

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

AMOR

O AMOR EXISTE ?

Não importa se estou ou não apaixonado, mas sei que o amor existe. O amor não se confunde com a paixão, realmente não.
Durante muito tempo relutei e combati a existência do amor em razão do seu abstrativismo, por ser algo impalpável. De repente, percebi que, assim como o amor, nada é palpável !
Como podia acreditar na existência de um Estado, de uma Federação, da Soberania, da Lei Fundamental, e em tantas outras abstrações que parecem concretas, e não acreditar no amor?!
Tantas ficções tornam o mundo concreto, por que não concretizar o Amor?!
Agora eu sei: Ele existe, dizem que doi, mas existe.
Portanto, não vou mais acreditar no valor que colocaram no papel moeda, não vou acreditar que existem fronteiras, que existem pessoas jurídicas, contratos sociais, etc.
Eu vou acreditar que o Amor existe!
Se é pra acreditar em ficção prefiro acreditar no Amor, assim, ele pode se tornar concreto também.